quinta-feira, 11 de outubro de 2012

MEU QUERIDO





Aracaju, 25.08.2001
Meu querido,

sei que disse muita coisa ofensiva... Infelizmente não posso retirar nada do que eu disse, e nem posso me arrepender, mas não fui tão sincera como deveria ter sido. Há coisas que você não sabe. Há muito sabia que não daríamos certo, porém também sei que queríamos que tivesse dado.
Eu estava revendo tudo que escrevi, mês a mês, e notei que sempre citei nos meus textos as nossas diferenças (lembra que falei que sempre escrevi coisas sobre nós e que nunca mostrei a você?). Notei que o que nos unia não parecia amor, era alguma outra coisa diferente disso. E nos textos sigo dizendo que você chegou como um príncipe encantado (por favor, encare isso como algo simbólico e não literal), porém não o meu. Não por conta do momento que você apareceu, mas por saber que você não ser a pessoa certa para mim. E mesmo com essa consciência eu briguei comigo mesma, querendo violentamente que você fosse o meu príncipe, isso por conta de sua conduta, por conta do que você mostrava para mim. Você parecia ser a melhor pessoa que havia aparecido em minha vida. Por isso, tentei até gostar das coisas que você gosta e isso não pude suportar! Esse foi um dos meus erros.
Quando olho para o passado, vejo que você foi mais amigo que namorado. Talvez essa dosagem tenha sido administrada de maneira errada. Sim, você cuidou de mim! Cuidou de mim como amigo, todavia eu precisava de um namorado. Isso ficou marcado quando você deixou de fazer coisas, até mesmo as mínimas, para mim e começou a fazer as mesmas coisas, inclusive as mínimas, para seus amigos e a diferença ficava apenas na cama... E eu o alertei sobre isso quando falei que precisa ser reconquistada... Além disso, achava muito estranho o fato de você falar que fui sua melhor parceira na cama, que se sentia completo sexualmente comigo, e mesmo assim nosso contato íntimo não acontecia na freqüência que eu desejava. Imagine como ficava minha cabeça! Foi quando observei que não estava me entregando a você, não mais, já havia uma barreira, mas continuei insistindo ao dizer para mim mesma que você era a pessoa certa.
No início do ano, parei de dizer que o amava não pelo que aconteceu antes no nosso relacionamento, mas pelo simples fato de não mais sentir aquilo (amor mesmo!) e de não mais poder enxergar uma possibilidade de continuarmos por mais tempo juntos – claro que doeu ter sido julgada por sua amiga por algo tão bobo e mentiroso, não tive a intenção de não levar o papel higiênico.
Deixei de regar o nosso namoro por notar que ele estava prestes a ruir por qualquer coisa que alguém falasse a você. Se antes disso eu tinha dúvida sobre o que sentia por você, inclusive havia falado a Michele que não o amava mais, em janeiro deste ano veio a certeza! Michele disse que eu deveria esperar um tempo parar saber o que estava acontecendo com meu coração, foi quando viajamos e vi que era impossível prosseguir – não sei se você lembra, mas essa foi a vez que mais resisti em reatar o namoro -, mas acabei cedendo.
Após esse momento, sempre que você dizia me amar... eu nunca mais falei em amor, não achava mais necessário tentar me enganar. Então minha dúvida passou a ser: quando e como dizer não dá mais?
Sei que errei por não ter sido honesta conosco e dito que não dava mais antes.  Nosso relacionamento foi o primeiro a ser encerrado por conta do “amor” ter chegado ao fim. Acabei me culpando por não mais sentir algo por alguém como você (aquele príncipe...) e passei a ficar incomodada com aquela situação, por não saber lidar com ela. Então acabei me afastando de você e fazendo com que você se afastasse de mim. Infelizmente, ou não, foi o que aconteceu. O fim...
Mesmo assim eu sempre cri que poderíamos ter revertido isso, mas você sempre trazia novidades que me jogavam para bem longe de você! Sim, tive momentos de querer lutar por você, e o fiz, mas você sempre teve mais força no relacionamento do que eu, onde sempre acabava cedendo por saber que você não o faria. Por isso a raiva veio e eu precisava falar, a raiva escondeu o amor. E falei e nos magoamos. A cada palavra ofensiva que eu dizia também me machucava... e quando resolvi ir embora foi para ficar longe de você. Quando resolvi dar a notícia da partida, queria, na verdade, que você dissesse FIQUE! Porém você preferiu sofrer - usando suas palavras, “...alguém que gosto muito está indo embora para sempre”. Isso foi dito com lágrimas. Não me senti triste, mas estranha. Estranha por querer ouvir o FIQUE, mesmo sabendo que eu iria embora mesmo assim...
Depois de ontem, depois de todo o meu desabafo raivoso, notei que a raiva passou. Pode confiar. E saiba que a raiva veio à tona por notar que você não estava bem. Acredite ou não, fiquei preocupada com você, mas não soube lidar com isso.
Sei que não é fácil e imediato, mas gostaria de tentar construir outro tipo de relação, a de amizade. Sei que você já queria isso antes, agora eu também quero. 
Não pense que foi fácil escrever isso, por mais que pareça. Toda palavra escrita aqui foi racionalizada e sentida. E não tive a intenção de ironizar nada no texto, se isso aconteceu, desculpe-me. Desejo imensamente que apenas as coisas boas fiquem e perdurem. E você tem razão, não é bom guardar raiva... e sei que a mudança partirá dessa minha nova postura e não quero ir embora sem terminar o que começamos.

Luísa

P.S.: Não sou o que pareço e você também não o é, somos melhores que isso.  Eu quero antes de partir, beber uma garrafa de vinho com você. Ainda hoje pela manhã ligarei para você para combinarmos!




TEXTO: André Bonfim

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