segunda-feira, 29 de outubro de 2012

PENSAMENTOS REVIVIDOS




Minha vida está sempre ligada aos sonhos e a cada passo era como se fosse a concretização de mais um deles. Porém, os sonhos não parecem ser o que idealizamos, às vezes permanecem escritos, como se fossem quadros pendurados na parede. Será que eles deveriam ficar no mundo da fantasia, encantado e belo, para não perderem sua essência e sua beleza cair diante da fatídica realidade? A realidade, quase sempre, é cruel!
Em de meus muitos sonhos, eu me encontrava sob a intensa penumbra, num quarto pequeno de um hotel qualquer, que trás reminiscências indizíveis em palavras; sentado e com os pés sobre o batente da janela, tentei decodificar pensamentos em verbos. O cigarro entre os dedos, o rosto cansado e choroso mostrando a intensidade de minhas frustrações.
O quarto bastante humilde, com suas paredes em tom pastel, retrata o que se passa – não mais no âmago e sim em meus pensamentos. Morbidamente, este pequeno cômodo era a perfeita retratação do que sou. O corpo exaurido em energia, mas repleto de “flashbacks” e decisões a serem tomadas. O que fiz de minha vida? Nada! Eis aí o problema. Tendo o acaso como cúmplice, deixei a vida guiar-me de um lado ao outro.
A obscuridade estava tomando conta do meu ser, mais uma vez...
Sou uma fraude! Sou tudo aquilo que detesto na hipocrisia social e agora está mais difícil de sustentar essa personagem criada. A ira e a carência eram co-participantes da solidão, que juntas consumiam a minha alma. Ocasionalmente elas vinham visitar-me ou mandavam lembranças...
Experimentei o gosto da amargura e me deparei comigo mesmo, como se eu estivesse diante de um espelho. Não havia ninguém ali! Constatar este fato sempre foi doloroso. O subterfúgio sempre foi a busca de algo, a busca que nunca findara, a busca do nada perdido no cosmo. Eu podia ouvir seus gritos desesperados e aterrorizantes me perseguirem, eles eram metaforizados por momentos, momentos difíceis. Então, chorei várias vezes, vários momentos. Elevei-os a ponto de nunca avistar momentos de felicidade, onde os momentos de quase-felicidade regiam a minha existência e a infelicidade, pura e bela, tornara-se uma conhecida íntima e inseparável.
Lágrimas rolaram por sobre minha face e, junto ao sangue que escorria logo em seguida, que queimava minha carne como uma substância corrosiva. Verdadeiras feridas expostas. A grande dádiva que é a vida há muito não podia carregar, não em minhas mãos, não a minha vida. A responsabilidade é grande e nunca tive a capacidade necessária para abraçá-la. Como pude ser tão tolo? Viver ainda era insuportável!
Envolto em pensamentos disparados a todo instante por meu subconsciente, onde apenas meu caminho escuro, rateado por luzes no alto dos postes elétricos que me acompanharão por todo o meu percurso. Observo os postes e suas luzes e, sob cada um desses pontos luminosos sinto haver uma saída para o emaranhado de portas ao meu redor. Vejo os “sóis” impertinentes, luzes que representam as oportunidades, e olho para trás para observar as que estão em minhas costas, são as que perdi... Os planos pareciam tão eficazes, porém os sonhos continuavam tão distantes e os desejos exacerbados para a realidade suportar; a alegria já foi bem aproveitada e a dor era sofrida/sentida que podia esvair-se em lágrimas. As decisões eram tão ambíguas e o amanhã sempre estava ali para resolver os erros. Os limites pareciam tão mais próximos que podiam transformar pequenos problemas em calamidades catastróficas, onde a “saída de emergência” estava ligada a distração...
Fui muito intenso em tudo e, talvez por isso, ainda não pude florescer entre os espinhos. Sou o reflexo daquele tempo e de lá trouxe roupas antigas que não servem para revestir este corpo, esta consciência...
Agora deitado em posição fetal, onde a única coisa a me envolver, além dos pensamentos, era o lençol vagabundo, perfeito para alguém como eu, alguém que fez o que fiz! As lágrimas, ainda contínuas, já faziam parte da decoração do quarto, num hotel asqueroso, esquecido, agora em qualquer lugar que a depressão não mais deixava enxergar.

Texto: André Bonfim
Foto: umpoucodepoesia-msframos.blogspot.com

6 comentários:

  1. Aumentou minha saudade dos nossos papos noite adentro, regados a muito café... rsrsrs Consegui ver vc em cena e ouvi até a música que Beto tocava enquanto vc emocionava a todos... ai!!!! saudade... muita saudade...
    "Fui muito intenso em tudo e, talvez por isso, ainda não pude florescer entre os espinhos. Sou o reflexo daquele tempo e de lá trouxe roupas antigas que não servem para revestir este corpo, esta consciência..." amo esse trecho...

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  2. Eu também amo o trecho que você citou... E realmente, a cada ano, cada mês, cada dia, cada hora, cada minuto, cada segundo, as roupas não servem mais... Que bom, né? Mas o que ainda serve a bater papo em sua casa, junto com Beto e Naná, tomando muito café!

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  3. "Sou uma fraude! Sou tudo aquilo que detesto na hipocrisia social e agora está mais difícil de sustentar essa personagem criada. A ira e a carência eram co-participantes da solidão, que juntas consumiam a minha alma. Ocasionalmente elas vinham visitar-me ou mandavam lembranças"...
    Fico impressionada com o fato de que tudo que você escreve parece ter saído daqui de dentro dos meus pensamentos, do que vivi, tudo o que sinto. Extravaso através das suas palavras.
    Incrível, é o que posso te dizer!

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  4. Que texto!!!
    Tirou o meu fôlego.
    você escreve muito bem, André...Isso é um dom!
    Também gostei muito da parte que sua amiga acima citou e também dos "sóis impertinentes".

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  5. Você é um ser humano crítico e sensível, sempre buscando respostas... São esses questionamentos que fazemos que nos aproximam intelectualmente - independente da amizade.
    Esse texto é o resultado de vários questionamentos.
    ...
    Suas palavras me alegram muito, principalmente por ler em seu comentário uma possibilidade de me aproximar do que estudei na universidade da vida, a minha própria existência!

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  6. Obrigado, Jonas!
    Que bom que você gostou! Eu tento fazer com a frequência possível o exercícioda escrita e dividir com vocês aqui neste blog. Tudo na vida é resultado de esforço, então vamos ao trabalho!
    Abraços

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