Minha
vida está sempre ligada aos sonhos e a cada passo era como se fosse a
concretização de mais um deles. Porém, os sonhos não parecem ser o que
idealizamos, às vezes permanecem escritos, como se fossem quadros pendurados na
parede. Será que eles deveriam ficar no mundo da fantasia, encantado e belo,
para não perderem sua essência e sua beleza cair diante da fatídica realidade?
A realidade, quase sempre, é cruel!
Em
de meus muitos sonhos, eu me encontrava sob a intensa penumbra, num quarto
pequeno de um hotel qualquer, que trás reminiscências indizíveis em palavras;
sentado e com os pés sobre o batente da janela, tentei decodificar pensamentos
em verbos. O cigarro entre os dedos, o rosto cansado e choroso mostrando a
intensidade de minhas frustrações.
O
quarto bastante humilde, com suas paredes em tom pastel, retrata o que se passa
– não mais no âmago e sim em meus pensamentos. Morbidamente, este pequeno
cômodo era a perfeita retratação do que sou. O corpo exaurido em energia, mas
repleto de “flashbacks” e decisões a serem tomadas. O que fiz de minha vida?
Nada! Eis aí o problema. Tendo o acaso como cúmplice, deixei a vida guiar-me de
um lado ao outro.
A
obscuridade estava tomando conta do meu ser, mais uma vez...
Sou
uma fraude! Sou tudo aquilo que detesto na hipocrisia social e agora está mais
difícil de sustentar essa personagem criada. A ira e a carência eram
co-participantes da solidão, que juntas consumiam a minha alma. Ocasionalmente
elas vinham visitar-me ou mandavam lembranças...
Experimentei
o gosto da amargura e me deparei comigo mesmo, como se eu estivesse diante de
um espelho. Não havia ninguém ali! Constatar este fato sempre foi doloroso. O
subterfúgio sempre foi a busca de algo, a busca que nunca findara, a busca do
nada perdido no cosmo. Eu podia ouvir seus gritos desesperados e aterrorizantes
me perseguirem, eles eram metaforizados por momentos, momentos difíceis. Então,
chorei várias vezes, vários momentos. Elevei-os a ponto de nunca avistar
momentos de felicidade, onde os momentos de quase-felicidade regiam a minha
existência e a infelicidade, pura e bela, tornara-se uma conhecida íntima e
inseparável.
Lágrimas
rolaram por sobre minha face e, junto ao sangue que escorria logo em seguida,
que queimava minha carne como uma substância corrosiva. Verdadeiras feridas
expostas. A grande dádiva que é a vida há muito não podia carregar, não em
minhas mãos, não a minha vida. A responsabilidade é grande e nunca tive a
capacidade necessária para abraçá-la. Como pude ser tão tolo? Viver ainda era
insuportável!
Envolto
em pensamentos disparados a todo instante por meu subconsciente, onde apenas
meu caminho escuro, rateado por luzes no alto dos postes elétricos que me
acompanharão por todo o meu percurso. Observo os postes e suas luzes e, sob
cada um desses pontos luminosos sinto haver uma saída para o emaranhado de
portas ao meu redor. Vejo os “sóis” impertinentes, luzes que representam as
oportunidades, e olho para trás para observar as que estão em minhas costas,
são as que perdi... Os planos pareciam tão eficazes, porém os sonhos
continuavam tão distantes e os desejos exacerbados para a realidade suportar; a
alegria já foi bem aproveitada e a dor era sofrida/sentida que podia esvair-se
em lágrimas. As decisões eram tão ambíguas e o amanhã sempre estava ali para
resolver os erros. Os limites pareciam tão mais próximos que podiam transformar
pequenos problemas em calamidades catastróficas, onde a “saída de emergência” estava
ligada a distração...
Fui
muito intenso em tudo e, talvez por isso, ainda não pude florescer entre os
espinhos. Sou o reflexo daquele tempo e de lá trouxe roupas antigas que não
servem para revestir este corpo, esta consciência...
Agora
deitado em posição fetal, onde a única coisa a me envolver, além dos
pensamentos, era o lençol vagabundo, perfeito para alguém como eu, alguém que
fez o que fiz! As lágrimas, ainda contínuas, já faziam parte da decoração do
quarto, num hotel asqueroso, esquecido, agora em qualquer lugar que a depressão
não mais deixava enxergar.
Texto: André Bonfim
Foto: umpoucodepoesia-msframos.blogspot.com
Aumentou minha saudade dos nossos papos noite adentro, regados a muito café... rsrsrs Consegui ver vc em cena e ouvi até a música que Beto tocava enquanto vc emocionava a todos... ai!!!! saudade... muita saudade...
ResponderExcluir"Fui muito intenso em tudo e, talvez por isso, ainda não pude florescer entre os espinhos. Sou o reflexo daquele tempo e de lá trouxe roupas antigas que não servem para revestir este corpo, esta consciência..." amo esse trecho...
Eu também amo o trecho que você citou... E realmente, a cada ano, cada mês, cada dia, cada hora, cada minuto, cada segundo, as roupas não servem mais... Que bom, né? Mas o que ainda serve a bater papo em sua casa, junto com Beto e Naná, tomando muito café!
ResponderExcluir"Sou uma fraude! Sou tudo aquilo que detesto na hipocrisia social e agora está mais difícil de sustentar essa personagem criada. A ira e a carência eram co-participantes da solidão, que juntas consumiam a minha alma. Ocasionalmente elas vinham visitar-me ou mandavam lembranças"...
ResponderExcluirFico impressionada com o fato de que tudo que você escreve parece ter saído daqui de dentro dos meus pensamentos, do que vivi, tudo o que sinto. Extravaso através das suas palavras.
Incrível, é o que posso te dizer!
Que texto!!!
ResponderExcluirTirou o meu fôlego.
você escreve muito bem, André...Isso é um dom!
Também gostei muito da parte que sua amiga acima citou e também dos "sóis impertinentes".
Você é um ser humano crítico e sensível, sempre buscando respostas... São esses questionamentos que fazemos que nos aproximam intelectualmente - independente da amizade.
ResponderExcluirEsse texto é o resultado de vários questionamentos.
...
Suas palavras me alegram muito, principalmente por ler em seu comentário uma possibilidade de me aproximar do que estudei na universidade da vida, a minha própria existência!
Obrigado, Jonas!
ResponderExcluirQue bom que você gostou! Eu tento fazer com a frequência possível o exercícioda escrita e dividir com vocês aqui neste blog. Tudo na vida é resultado de esforço, então vamos ao trabalho!
Abraços