segunda-feira, 5 de novembro de 2012

NAQUELE TEMPO...



Eles pareciam feitos um para outro naquele tempo em que se conheceram… Foram trocas de olhares desacreditados por ela – e ela estava linda em seu longo vestido branco que tanto escondia quanto valoriza seu corpo falso magro. Inconscientemente, sim inconscientemente, seu cabelo longo e anelado era jogado de um lado ao outro, liberando seu cheiro de mulher quimicamente identificada com o cheiro do macho que ganhara sua atenção. Sim, ela era o alvo, a presa que o corpo dele precisava, a mulher que ele queria para várias noites – mas isso ainda ele não sabia. Mas ali era o encontro de duas almas, almas intelectualmente ligadas, almas com uma longa história a ser vivida e viveriam, mas ainda não sabiam.
Eles pareciam feitos um para o outro naquele momento. Aquele encontro era tal qual uma dança, a dança do movimento óbvio do flerte. E ela acendia um cigarro, jogava mais uma vez seu cabelo para a lateral esquerda de seu corpo e sorria, enquanto cruzava a perna direita sobre a esquerda, fingindo que ele não estava ali, fingindo que não percebia que ele estava olhando em sua direção.  Mesmo de lá, enquanto trabalhava, ele conseguia sempre se mostrar especialmente presente para ela. Ao contrário dela, muito seguro e presunçoso ao ponto de ter certeza de que o momento do toque aconteceria no final da noite, mas ela não sabia, não conseguia acreditar.
A noite compunha o belo visual que aquele bar tinha, aquele encontro encantado de almas ao som de boas músicas e sua decoração rústica pareciam eternizar aquele momento. Mesmo bela a noite caiu, dando lugar a um belo amanhecer. As ondas da praia já aparentes convidavam qualquer um a molhar seus pés, lavando e levando resquícios de energias indesejadas. E ela se levantou para molhar seus pés. E ela levantou para molhar seus pés sem convidá-lo para ir junto. Mas ele foi.
Eles ainda pareciam feitos um para o outro enquanto se beijavam à beira mar, com suas ondas batendo na altura de seus calcanhares. E continuavam a se beijar quando o sol já aparecia ao fundo, fazendo qualquer um lembrar-se da cena de algum filme, ou novela, ou livro. A cena era realmente poética, não parecia real, parecia um exagero de uma mulher apaixonada ao contar sobre seu amado a suas amigas.
Eles ainda pareciam feitos um para o outro no tempo em que casaram, mesmo casando alguns meses após àquela noite em que se beijaram. Todos suspiravam quando o casal aparecia nos encontros rotineiros entre amigos. Era o casal que se entendia. Era o casal admirado por todos que o conheciam.
Mas tudo mudou! Eles não mais pareciam feitos um para o outro quando as dificuldades, problemas e desentendimentos surgiram. Mudou porque hoje eles são feitos um para o outro! E sabem disso!


TEXTO: André Bonfim
FOTO: declarandopoemas.blogspot.com

2 comentários:

  1. "Mas tudo mudou! Eles não mais pareciam feitos um para o outro quando as dificuldades, problemas como emagrecer e desentendimentos surgiram. Mudou porque hoje eles são feitos um para o outro! E sabem disso!"
    Incrível André Bonfim que nessas sutis palavras descrevam tanta história, tanta intensidade, tanto...
    O doloroso é chegar ao ponto da descoberta e que as coisas mudam como um passe mágica, quando menos esperamos.
    Adoro!

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    1. Obrigado, Graziela!
      Eu fiquei curioso para saber sua opinião sobre a desconstrução do ideal de amor que a maioria das pessoas tem.

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