Desde os tempos em que eu estava na universidade, especificamente na matéria de Filologia Românica, tenho me interessado pelo encontro de culturas, de que forma ela acontece... Mas este texto é apenas uma salada de pensamentos após terminar de ler, mais uma vez, o livro "O Mundo de Sofia".
...
Por vezes isso parece um processo de racionalizar as
experiências, ou uma espécie de fusão entre a cultura nativa e a cultura
visitada. A necessidade que o cérebro tem de armazenar de maneira lógica aquilo
que é visto, sentido, tocado e pensado.
O processo de engavetamento às vezes desenha-se como uma contradição,
mas que esta aparência pode ser explicada de diversas formas. Podemos nos
emprestar o que disse Platão em seu pressuposto “O mundo das ideias” para iniciar
o apoio aos quatro pontos da lógica experimental. É uma tarefa árdua que se
utiliza dos âmbitos cruzados das disciplinas consagradas da humanidade e das
novas teorias comportamentais.
Para Platão a ideia pressupõe a coisa existida. O que
existe flui e transforma-se e torna-se único. Mas a ideia, a matéria
pressuposta, a fôrma, ela é imutável, portanto geral. Ou seja, tudo aquilo que
vemos e tocamos já existia no nosso ideal, como se fosse algo existente em
nosso DNA que nos fará identificar a matéria no momento da experimentação.
Depois desse momento, toda a matéria com aquelas características resultam num
tema que já pré-existia, porém sem defini-la como matéria específica. Ela é
matéria geral, acúmulo de informações.
Encaixando esse conceito no padrão básico comportamental, à primeira
vista, vislumbra-se uma ilógica a partir de “novos padrões de comportamento da sociedade”.
Se uma ideia pressupõe a coisa, então afirmar que nada é novo e que tudo é
cíclico é inevitável.
Se nada é novo, se tudo é cíclico, podemos mapear o
próximo passo da sociedade analisando seu processo evolutivo associado às
transformações aceleradas pelo avanço tecnológico. E, então, tentar enxergar
onde “os novos processos” se encaixariam em qual momento histórico.
Como a ideia “Cultura”, após ser experimentada, se
comporta como um novo padrão social? Esta premissa nos leva a outra: Ao
movimento cíclico cabe à involução levando a sociedade em direção ao momento
nulo e reiniciar-se? A Bíblia histórica parece nos responder que sim. Mas nela
existe a argumentação alegórica por meio da fé que busca respostas recriando a
história da humanidade através de uma mitologia própria. A Bíblia está repleta
de códigos que apoiam o conceito de signo criado pelos pais da Semiologia e
Semiótica.
A Bíblia consiste de histórias intercruzadas,
resultando num sistema de regras comportamentais daquilo que é cabível ou não
à sociedade humana. Onde virtudes e vícios são descritos, assim como as
consequências de seus usos. Seu sistema “ético” tornou-se praticamente inútil
nos dias de hoje em consequência da transformação sofrida pela sociedade e a
necessidade inata da razão pensar e repensar o “certo” e o “errado”.
Tal modelo de comportamento que resultou na Bíblia da
fé, reproduz numa parcela numerosa das diferentes culturas o que Pierce chama
de primeiridade. Que é a primeira impressão que temos das coisas, poluída de sentimentos
particulares que traduz uma conclusão equivocada da sociedade, resultando num
comportamento passivo diante de problemas que exigem um comprometimento
esclarecido das responsabilidades concernentes a construção daquilo que seria
ideal ao conjunto. Existirá sempre a ideia de que alguém virá nos salvar e
transformar o mundo num paraíso, onde tudo coexistirá de maneira harmônica e
benéfica para todos. Ou seja, o comportamento padrão continua atribuindo a algo
alegórico aquilo que é de sua responsabilidade.
Talvez isso represente a ideia pré-existente de que
caminhamos ciclicamente para o processo nulo, onde a sociedade reinicia.
Autor: André Bonfim
Foto: seforarocha.blogspot.com