segunda-feira, 19 de novembro de 2012

EU SÓ QUERIA DIZER...




O que é certo? O que é errado? Saudades de um tempo sofrido, porém belo para ser lembrado... ou dolorido em demasia para ser sentido. “O tempo não para...”, já dizia Cazuza. Se ele não para, jamais voltará! Fotos? Filmagens? Lembranças? Sofrimentos? O que valeu? Enriquecer-se de conhecimento que o mundo proporciona para saciar a sede da alma, a sede do que ficou perdido no tempo. Por que? Para saber que sobreviveu a diversas tempestades. Para quê? Depois da estiagem a chuva sempre volta para lavar a alma com lágrimas, suor e sangue.
Pude sentir sua tristeza... um quê de dor, um quê de dúvida... Vislumbro seu rosto e desenho seus olhos... seus olhos estão perdidos numa dança, a dança do abandono que busca algo que justifique continuar ali. Mas para onde olhar? Por que olhar? Qual o sentido de olhar? Apenas pupilas agitadas de um lado ao outro... uma tentativa frustrada de fazer parte deste mundo.
Dizem que os olhos são a janela da alma, realmente são. Sua verdade pode ser notada simples assim. Dói enxergar a destruição que as pessoas são capazes de fazer a um ser humano. As pessoas tentaram (e continuarão tentando) destruir sua pureza, seus princípios, seu caráter, sua história... sua poesia.
Não faz ideia do que desperta nos outros quando você olha o horizonte buscando uma resposta ao contar suas histórias cansadas, sofridas e repetidas. É um despertar de “quero colo”, sem intenções efêmeras e vazias. É isso! Você é um menino-homem que precisa de colo, de conselhos, de puxões de orelha e que precisa de amor.
Acorde, o mundo dói para todos!
Chega de tomar conta de tudo e de todos! Sua vida é feita de entregas exaustivas. Uma eterna luta de um lado só. O seu lado. Mas e o outro lado? Seu diálogo é um monólogo inaudível por causa de sua casca, sua roupa de carne tira a importância de ser ouvido, de ser notado mais de perto. Quando irá olhar para dentro de si, olhar o que há atrás da capa do livro que escreveu?
Chega! Chega! Chega! A dor também pode ser uma escolha e uma escola. A saudade pode ser bonita. O tempo não volta. O sofrimento pode ser um valioso aprendizado, não repita.  Viva. Acorde. Pule. Dance. Grite. Chore. Fale. Escreva. SINTA!
Ícaro tinha um sonho, ele queria voar... criou suas asas... concretizou seu objetivo, mas caiu! Todavia Ícaro arriscou, tentou, a vida cobrou seu preço, ele pagou, mas conseguiu! Viveu! A vida é um eterno risco! Viver é um risco! O que você escolhe?

Texto: André Bonfim
Foto: renata-recolorindo.blogspot.com

terça-feira, 13 de novembro de 2012

CALOR NA MEDIDA CERTA



Desde o início do outono deste ano desenvolvi mais uma rotina em minha vida: Nos finais de tardes possíveis, tomo meu café na varanda ouvindo uma banda que conheci há pouco tempo e que já virei fã de carteirinha, Coutto Orchestra de Cabeça. Parece trilha sonora da viagem perfeita, da festa perfeita, da conversa perfeita com amigos e também do ato de tomar um cafezinho sozinho em casa – além de me transportar para meu canto favorito: Aracaju. É essa a exata sensação. Porém a sensação é uma contradição, isso porque, ao ouvir a Coutto, me imagino dançando à beira da praia, ou fazendo um pick-nick no parque, ou, melhor ainda, dançar ao som ao vivo da banda – atividades que, em terras germânicas, são apenas possíveis no verão e/ou em dias quentes de outono.
A Coutto trás calor para o frio do já então gelado outono, quase inverno, e espero que continue a transmiti-lo quando o inverno de fato chegar. Porque eu quero é o calor, mas na medida certa. Eu quero o calor na medida possível para dançar e me deixar envolver pela atmosfera criada pelas composições da Coutto.



Um pouco sobre a Coutto, texto retirado da página  da orquestra:
“De Aracaju, Sergipe, a Coutto Orchestra de Cabeça faz parte da nova safra da música instrumental do nordeste brasileiro juntamente com artistas como Anjo Gabriel, Burro Morto, Camarones dentre outros. 
Formada em 2010, a micro-big-band faz a fusão da cultura dj com  as diversas melodias e fanfarras mundo afora, absorve e  traz para casa os cantos e ritmos tradicionais e pops como o tango, a cumbia, o balkan, as valsas, as marchas, o house e  o jazz manouche e leva para o mundo o maracatu de brejão, a taieira, a marujada e o forró, para executar um caldeirão sonoro o qual entitula Eletrofanfarra. 
No palco, seis instrumentistas linkam aparatos tecnológicos a sanfona, percussões, sopros, vozes e cordas para reproduzir melodias cativantes e batidas fortes. Canções sem palavras associadas a projeções e luzes, provocam uma sensação festiva e imagética em uma atmosfera urbana e enraizada na cultura das ruas. 
Com 02 Ep`s lançados (Micromúsica (2010)/ Aratu Milonga (2012)) a banda parte para lançar no início de 2013 o seu primeiro disco oficial, intitulado Eletrofanfarra. Atualmente a Coutto Orchestra vem ganhando destaque em importantes espaços do cenário da música brasileira como  shows na Feira da Música (CE), BNB Instrumental (PB e PE), LAB Festival(AL), Palco Giratório (SE), Festival Sertão Mundo (PE) e participação em diversas coletâneas fisicas e virtuais como Bass Culture e Beyound (BM&A), Serigy All Stars (Disco de Barro), dentre outras.
Além dos shows  está também produzindo trilhas para filmes como “A menina na casa”, de Hélio Marinho e espetáculos teatrais a exemplo de “C(s)em Nelson” e  Coiote, da Cia Stutifera Navis.
Corações abertos! A pulsação cardíaca da Coutto chegou!”


Mais informações: http://www.couttoorchestradecabeca.com/




A Coutto Orchestra de Cabeça:

Alisson Coutto: Trombone, vocal e controladoras
Fabinho Espinhaço: Bateria
Rafael Ramos: Contrabaixo, Trompete, vocal e Piano
Pedro Yuri: Craviola, Guitarbanjo, Controladoras e vocal
Vinicius Bigjohn: Acordeon, teclados e percussão
Werden Tavares: Vj, trinângulo e vocal



Foto do topo: Poster da arte: O calor do outono, colinas de Ment zazzle.com.br
Fotos da Coutto: http://www.couttoorchestradecabeca.com/

domingo, 11 de novembro de 2012

DESABAFO




Definitivamente sou louco. Contudo, não tenho o direito de sê-lo, louco não sabe que o é. O que me resta? Passar as madrugadas fumando e procurando provas para existir. Onde elas estão? Por isso, não consigo imaginar como a maioria das pessoas vive sem buscar os porquês de coisas aparentemente triviais e banais, como, por exemplo: a notoriedade de estar vivo! Falo das possibilidades que me cercam – não pense que este é um relato de um futuro suicida, mas pode até ser, é mais uma possibilidade, não descarto nenhuma delas.  A palavra-chave é passividade, pessoas estão inseridas num universo que denota descaso com a dádiva da vida; percorrem a estrada de tijolos amarelos sem nada questionar. Gostaria que essa mesma estrada me levasse para meu lar, onde poderia me sentir seguro. Onde será que ele está? Não consigo unir as pistas que encontrei no decorrer de minhas caminhadas iniciais. Até agora a vida tem sido um tédio! Espero um dia efetivar a minha missão. Só pode ser uma missão...
            Diante das possibilidades, gostaria de me lançar ao desconhecido como se este fosse um mar, com seus mistérios ocultos, o mesmo mar no qual os portugueses se lançaram na época da expansão marítima, com seus enigmas assustadores, rumando ao desconhecido. Quero enfrentar meus monstros, minhas serpentes marinhas, saber quais são reais, testar minha coragem e minha autodisciplina. Porém, não posso expressar meus pensamentos mais sujos, obscuros e desejos pecaminosos que poderiam macular o sentido de pureza que possa existir no cosmo, sem ter que pagar o preço. Quero dizer, testar as possibilidades e capacidades que vieram em meu “pacote básico de existência” ou aproveitar “as peças que acompanham o produto”. Quero descobrir terras intocadas e seus habitantes míticos para tornar a existência mais próxima do que seria mais humano, mais carnal. Sempre houve, há e haverá um preço.
            Liberdade, que nada! É um tédio viver sempre preso a parâmetros e laços de virtudes. Sem eles não haverá salvação. Existir tal qual um bom moço, respeitoso e de acordo com normas divinas materializadas pelo homem em uma Bíblia para acabar no céu? Ou desencarnar carregando erros e acertos para uma outra existência? Tudo bem, esta última me atrai bastante, mais que as demais correntes religiosas pseudofilosóficas. E a opção de desligar a máquina e reiniciá-la? Gostaria de ficar com esta última possibilidade, mas tal atitude poderia tornar as coisas piores e eu, com certeza, acabaria no vício eterno da eutanásia.
            Então, pergunto a Deus: qual o verdadeiro sentido da vida? Muita gente pode achar tolice essa pergunta, porém se Ele não quisesse que O questionasse tanto sobre esse assunto, teria excluído do meu programa de instalação. Então, acho que realmente quer que eu busque as possibilidades de respostas para poder escolher como aproveitar de modo qualitativo a dádiva de estar vivo...
Seria muito interessante poder simplificar! Quereria eu ter o direito de desejar que um anjo aparecesse e colocasse um mapa em minhas mãos, desta forma seria menos complicado proceder a minha evolução espiritual e chegar ao ponto máximo. Porém, até para isso eu teria que merecer. De fato, não mereço!
            Realmente não me sinto integrante deste mundo, ou deste plano, como você achar melhor. Não me interesso pela maioria das formas de diversão. Contudo, não gostaria de ficar isolado entre paredes de um cômodo... Acho que tudo fica mais humano, ou poderia dizer mais divertido, por isso humano, experimentando as potencialidades dos sentimentos, das sensações, testar o maniqueísmo. De qualquer modo, para quem vou falar das minhas grandiosas questões filosóficas sem parecer egocentrismo, vaidade, loucura, imaginação exacerbada? E que seja! Quem vai me ouvir tentando entender, decifrar, sei lá, sem se ater a parâmetros pré-estabelecidos? É fato, não sei se sou louco ou uma anomalia da natureza.
Por exemplo, gostaria de contar que me sinto como se eu fosse várias pessoas em uma, sem parecer que estou sendo subjugado por uma entidade espiritual. Acreditar que sou bom e ruim ao mesmo tempo, e também tudo isso separado, tendo a consciência que sou duas, ou três pessoas. Os católicos e evangélicos poderiam dizer que é o diabo tomando conta de meu corpo, já os espíritas diriam que é obsessão por espíritos malignos e os médicos que eu preciso de um tratamento com um psiquiatra. Algumas vezes eu diria que é obsessão, mas em outras eu diria não! O que me resta, ser louco?
Sinto que há uma coisa para explodir dentro de mim. Espero isso acontecer, mesmo sem saber o que é. E ainda assim essa coisa fica sempre no quase. Parece algo extrafísico, mas também parece algo que poderei tocar. É uma loucura! Sou louco! É fato! Quero minha vida, porém ela não é minha. De quem ela é? Viu, realmente preciso de ajuda.

Texto: André Bonfim
Foto: Por Nathalie Gingold em Uncategorized Tags:Akna Inuit, Desabafo de uma ...
aknagold.wordpress.com

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

NAQUELE TEMPO...



Eles pareciam feitos um para outro naquele tempo em que se conheceram… Foram trocas de olhares desacreditados por ela – e ela estava linda em seu longo vestido branco que tanto escondia quanto valoriza seu corpo falso magro. Inconscientemente, sim inconscientemente, seu cabelo longo e anelado era jogado de um lado ao outro, liberando seu cheiro de mulher quimicamente identificada com o cheiro do macho que ganhara sua atenção. Sim, ela era o alvo, a presa que o corpo dele precisava, a mulher que ele queria para várias noites – mas isso ainda ele não sabia. Mas ali era o encontro de duas almas, almas intelectualmente ligadas, almas com uma longa história a ser vivida e viveriam, mas ainda não sabiam.
Eles pareciam feitos um para o outro naquele momento. Aquele encontro era tal qual uma dança, a dança do movimento óbvio do flerte. E ela acendia um cigarro, jogava mais uma vez seu cabelo para a lateral esquerda de seu corpo e sorria, enquanto cruzava a perna direita sobre a esquerda, fingindo que ele não estava ali, fingindo que não percebia que ele estava olhando em sua direção.  Mesmo de lá, enquanto trabalhava, ele conseguia sempre se mostrar especialmente presente para ela. Ao contrário dela, muito seguro e presunçoso ao ponto de ter certeza de que o momento do toque aconteceria no final da noite, mas ela não sabia, não conseguia acreditar.
A noite compunha o belo visual que aquele bar tinha, aquele encontro encantado de almas ao som de boas músicas e sua decoração rústica pareciam eternizar aquele momento. Mesmo bela a noite caiu, dando lugar a um belo amanhecer. As ondas da praia já aparentes convidavam qualquer um a molhar seus pés, lavando e levando resquícios de energias indesejadas. E ela se levantou para molhar seus pés. E ela levantou para molhar seus pés sem convidá-lo para ir junto. Mas ele foi.
Eles ainda pareciam feitos um para o outro enquanto se beijavam à beira mar, com suas ondas batendo na altura de seus calcanhares. E continuavam a se beijar quando o sol já aparecia ao fundo, fazendo qualquer um lembrar-se da cena de algum filme, ou novela, ou livro. A cena era realmente poética, não parecia real, parecia um exagero de uma mulher apaixonada ao contar sobre seu amado a suas amigas.
Eles ainda pareciam feitos um para o outro no tempo em que casaram, mesmo casando alguns meses após àquela noite em que se beijaram. Todos suspiravam quando o casal aparecia nos encontros rotineiros entre amigos. Era o casal que se entendia. Era o casal admirado por todos que o conheciam.
Mas tudo mudou! Eles não mais pareciam feitos um para o outro quando as dificuldades, problemas e desentendimentos surgiram. Mudou porque hoje eles são feitos um para o outro! E sabem disso!


TEXTO: André Bonfim
FOTO: declarandopoemas.blogspot.com