Definitivamente sou louco. Contudo, não tenho o direito de sê-lo, louco não sabe que o é. O que me resta? Passar as madrugadas fumando e procurando provas para existir. Onde elas estão? Por isso, não consigo imaginar como a maioria das pessoas vive sem buscar os porquês de coisas aparentemente triviais e banais, como, por exemplo: a notoriedade de estar vivo! Falo das possibilidades que me cercam – não pense que este é um relato de um futuro suicida, mas pode até ser, é mais uma possibilidade, não descarto nenhuma delas. A palavra-chave é passividade, pessoas estão inseridas num universo que denota descaso com a dádiva da vida; percorrem a estrada de tijolos amarelos sem nada questionar. Gostaria que essa mesma estrada me levasse para meu lar, onde poderia me sentir seguro. Onde será que ele está? Não consigo unir as pistas que encontrei no decorrer de minhas caminhadas iniciais. Até agora a vida tem sido um tédio! Espero um dia efetivar a minha missão. Só pode ser uma missão...
Diante das possibilidades, gostaria de me lançar ao desconhecido como se este fosse um mar, com seus mistérios ocultos, o mesmo mar no qual os portugueses se lançaram na época da expansão marítima, com seus enigmas assustadores, rumando ao desconhecido. Quero enfrentar meus monstros, minhas serpentes marinhas, saber quais são reais, testar minha coragem e minha autodisciplina. Porém, não posso expressar meus pensamentos mais sujos, obscuros e desejos pecaminosos que poderiam macular o sentido de pureza que possa existir no cosmo, sem ter que pagar o preço. Quero dizer, testar as possibilidades e capacidades que vieram em meu “pacote básico de existência” ou aproveitar “as peças que acompanham o produto”. Quero descobrir terras intocadas e seus habitantes míticos para tornar a existência mais próxima do que seria mais humano, mais carnal. Sempre houve, há e haverá um preço.
Liberdade, que nada! É um tédio viver sempre preso a parâmetros e laços de virtudes. Sem eles não haverá salvação. Existir tal qual um bom moço, respeitoso e de acordo com normas divinas materializadas pelo homem em uma Bíblia para acabar no céu? Ou desencarnar carregando erros e acertos para uma outra existência? Tudo bem, esta última me atrai bastante, mais que as demais correntes religiosas pseudofilosóficas. E a opção de desligar a máquina e reiniciá-la? Gostaria de ficar com esta última possibilidade, mas tal atitude poderia tornar as coisas piores e eu, com certeza, acabaria no vício eterno da eutanásia.
Então, pergunto a Deus: qual o verdadeiro sentido da vida? Muita gente pode achar tolice essa pergunta, porém se Ele não quisesse que O questionasse tanto sobre esse assunto, teria excluído do meu programa de instalação. Então, acho que realmente quer que eu busque as possibilidades de respostas para poder escolher como aproveitar de modo qualitativo a dádiva de estar vivo...
Seria muito interessante poder simplificar! Quereria eu ter o direito de desejar que um anjo aparecesse e colocasse um mapa em minhas mãos, desta forma seria menos complicado proceder a minha evolução espiritual e chegar ao ponto máximo. Porém, até para isso eu teria que merecer. De fato, não mereço!
Realmente não me sinto integrante deste mundo, ou deste plano, como você achar melhor. Não me interesso pela maioria das formas de diversão. Contudo, não gostaria de ficar isolado entre paredes de um cômodo... Acho que tudo fica mais humano, ou poderia dizer mais divertido, por isso humano, experimentando as potencialidades dos sentimentos, das sensações, testar o maniqueísmo. De qualquer modo, para quem vou falar das minhas grandiosas questões filosóficas sem parecer egocentrismo, vaidade, loucura, imaginação exacerbada? E que seja! Quem vai me ouvir tentando entender, decifrar, sei lá, sem se ater a parâmetros pré-estabelecidos? É fato, não sei se sou louco ou uma anomalia da natureza.
Por exemplo, gostaria de contar que me sinto como se eu fosse várias pessoas em uma, sem parecer que estou sendo subjugado por uma entidade espiritual. Acreditar que sou bom e ruim ao mesmo tempo, e também tudo isso separado, tendo a consciência que sou duas, ou três pessoas. Os católicos e evangélicos poderiam dizer que é o diabo tomando conta de meu corpo, já os espíritas diriam que é obsessão por espíritos malignos e os médicos que eu preciso de um tratamento com um psiquiatra. Algumas vezes eu diria que é obsessão, mas em outras eu diria não! O que me resta, ser louco?
Sinto que há uma coisa para explodir dentro de mim. Espero isso acontecer, mesmo sem saber o que é. E ainda assim essa coisa fica sempre no quase. Parece algo extrafísico, mas também parece algo que poderei tocar. É uma loucura! Sou louco! É fato! Quero minha vida, porém ela não é minha. De quem ela é? Viu, realmente preciso de ajuda.
Texto: André Bonfim
Foto: Por Nathalie Gingold em Uncategorized Tags:Akna Inuit, Desabafo de uma ...
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