quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

QUEM SOU EU?



Sou uma pessoa cheia de dúvidas e talvez elas não tenham tanta importância para os outros e nem deveriam ter para mim mesmo. Talvez, sejam questionamentos naturais oriundos da fatalidade do fim de mais uma década de vida. Pode ser também algum tipo de responsabilidade em torno do avanço etário, mesmo maquiado, ou fingido, ou imaginado, não deixa de ser importante tomar para si este posicionamento em relação à projeção das reminiscências hoje e amanhã.

As atitudes e situações são tornadas conscientes, não mais levadas ao extremo como no início da carreira existencial e acabam resultando nas possibilidades de uma existência muito mecânica. Porém é mais uma fase do ser de barro, buscando qualidade para ter quantidade material. Hoje em dia acho estranho ter essa razão tão consciente em tudo que faço. Não consigo mais caminhar sem procurar o que seria a lógica. Caso acabasse abandonando o caminho pensado, eu teria agido de acordo com as correntes espiritualistas para ter paz e isso eu não quero.

Às vezes, fico imaginando que não existe felicidade apenas com a razão e a emoção, quero crer que acreditando no maravilhoso posso tornar as coisas suportáveis - não gostaria de ter uma vida suportável, quero tê-la plena, envolta de felicidades e sabendo que os momentos difíceis fazem parte dela -, mas ainda não formei minha trindade e não sei se alcançaria tal felicidade que muitos afirmam ser a verdadeira.


Texto: André Bonfim
Foto: comodesbloquear.blogspot.com

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

SER OU NÃO SER HOMEM


por Isabele Ribeiro*

Homens, sejam homens! Abram a porta do carro, esperem a gente entrar, mandem flores, mesmo que sejam roubadas do jardim alheio, é... a gente não vai ligar tanto se você não puder pagar a conta uma vez ou outra. Mostrem que tem vontade da gente, se abram, digam que amam, e se não amam, digam também! A coisa mais linda do mundo é ser verdadeiro com quem se tem carinho... Não tô falando em ser macho, tô falando até dos casais gays, como eu vejo muitos amigos que eu amo e que admiro tanto o amor forte que tem um pelo outro, sem limites, dá pra entender? Sejam homens o suficiente pra gente se jogar sem pensar, de braços e peito abertos. Sejam homens pra gente desistir daqueles que esperam a hora de a gente ficar solteira pra chamar pra sair e que realmente, são caras legais, mas não... a gente quer é aquele cara que tá do lado, dizendo que você é a mulher mais bonita do mundo, que adora a sua comida mesmo sendo uma gororoba, que tá ali pra te dar colo, pra ligar pra perguntar se tá bem, pra saber como foi o dia, pra ter um ciuminho, pra contar novidades felizes, pra chamar de sua. Seremos suas sim! Faremos sua comida e até quem sabe vamos lavar suas cuecas de vez em quando, por mais absurdo que isso pareça pras feministas de plantão. Vocês não sabem o quanto podem nos ter por inteiro se forem nossos por inteiro também... e a propósito, somos muito boas nisso. ;)

*Vejam também o blog http://www.mercadoxique.com/
TEXTO: Isabele Ribeiro
FOTO:  pt-br.facebook.com

Obs.: Texto na íntegra.

ASSIM VOCÊ ME DISSE...

Espaço para destacar coisas, frases, atitudes, etc... Neste espaço nada é meu. Tudo é dos outros!

sábado, 1 de dezembro de 2012

NOVELA


Eu pensei que a minha vida tomaria outro rumo, ou que talvez ela não tivesse rumo algum. Mas percebi mais uma vez que o destino tem grande influencia no curso existencial das pessoas. Por isso, hoje me encontro imerso num mar de inércia, tento nadar e não vislumbro onde me espraiar. Quando isso acontece, parece inútil não tentar comparar a vida das pessoas à minha volta... Talvez analisando essas pessoas eu perceba uma saída para o ócio.

CAPÍTULO 1





A vida em constante movimento!
Esta frase não sai de meus pensamentos. A vida deve estar sempre em trânsito – mudei os termos para tentar compreender melhor a grandiosidade da frase. Desde que eu ouvi esse texto pela primeira vez naquela noite, senti uma imensa vontade de parar e refletir. Queria que Kátia não tivesse interrompido a troca/criação de conhecimento que havia sido iniciada. Mas a realidade é que terei que esperar até chegar em casa, tentar construir um conhecimento sozinho para expô-lo numa outra oportunidade – apesar de achar que eles, incluindo a própria autora da frase, não estavam interessados no cunho filosófico daquelas palavras. Numa outra hora, se eu estiver errado, o momento surgirá e poderemos fazer a permutação de nossas ideologias. Se não for com Bruna (autora da frase), será com outra pessoa.
Ao chegar em casa não consegui parar e analisar aquele beijo acontecido antes de descer do carro... O que eu queria mesmo era correr até o banheiro, tirar toda a roupa, sentar sobre o vaso sanitário, acender um cigarro e refletir sobre a bendita frase: A vida em constante movimento! Adoro resolver meus problemas no banheiro, sem precisar fazer as necessidades fisiológicas todas as vezes que adentrar naquele local. Não uso o banheiro apenas como lugar de higienização física, faço a mental também, desenvolvo idéias, soluciono problemas e excluo o que não é necessário. Sempre que tenho algo a raciocinar entro no banheiro, reflito, se necessário tomo uma decisão e, logo depois, tomo um bom banho!

Parando para analisar a relevância do banheiro em minha vida, observo que minha mente pára ao ocupá-lo, parece que ela transborda em meio à quantidade de coisas que vão surgindo ao me concentrar nas possibilidades de uma frase aparentemente simples. Naquelas cinco palavras estava embutida uma responsabilidade grande. Nessas palavras há algo que precisa ser cautelosamente pensado. O que pude notar é incrível! Quando fecho meus olhos e tento visualizar essa frase, um filme passa diante dos meus olhos como um rastro de luz, tal qual um cometa, e posso ver as opções assinaladas durante toda uma vida, como se nelas, de repente, houvesse uma conexão bem estruturada.

CONTINUA...

Texto: André Bonfim
Foto (topo): boemiodigital.blogspot.com
Foto (outra): laprovitera.blogspot.com

CAPÍTULO 2



Kátia ligou para mim.

- Nós vamos sair para beber hoje, logo após sua aula! Você está intimado, hoje irá conhecer Renato, aquele amigo que estava junto a mim na Noite Universitária.

A Noite Universitária é um lugar de encontro de universitários, intelectuais, artistas e alguns curiosos. Lá reencontrei Kátia e fui apresentado ao seu grupo de amigos, nele eu avistei um rapaz que chamou minha atenção. Renato. Ele é um grande amigo de Kátia. Uma gracinha, cabelos lisos e curtos, pele clara, vestindo sua camisa de grife, seu cigarro na mão e com seu copo em cima da mesa. Parecia que não estava se divertindo. Pensei em perguntar porquê uma pessoa ficaria tão depressiva num lugar tão inspirador quanto aquele. Quis fazer isso para chamar sua atenção e mostrar que eu o havia notado...

- Trás mais uma cerveja! Disse a garota ao garçom. Seus cabelos longos, um ondulado esvoaçante, com mechas mais claras num tom de dourado e com seu piercing enfiado no meio de seu lábio inferior. Apesar de não ser uma figura comum, ela é uma mulher bonita. Mostrou ser bastante inteligente no decorrer da conversa e das garrafas da preciosa bebida alcoólica. Nós estamos num lugar maravilhoso, sentados à beira do rio Sergipe, num restaurante próximo à futura ponte que une Aracaju a Barra dos Coqueiros.

- Bruna, repita esta sua última frase, por favor!

- A vida em constante movimento! ?

Bruna havia estudado biologia na Universidade Federal de Sergipe, mas não concluiu o curso. Apesar disso, sabia que ela não estava falando dos ciclos biológicos que regem os seres-vivos.

- Você não acha que há um problema nas pessoas atualmente, como se existissem falhas em sua fabricação?

Notei que ali era um bom gancho para uma conversa longa, cheia de idéias e possibilidades mirabolantes. Adoro essas conversas num barzinho legal, com pessoas legais, ouvindo música legal e falando sobre coisas inteligentes. A conversa teve que ser quebrada devido às palhaçadas de Kátia sobre suas paqueras, preferências físicas e desempenho sexual.

A noite estava deliciosa. Renato encantado com a atenção que eu direcionara a ele, atenção discreta, às vezes num olhar, noutras um gesto... Mas aquela frase que a garota de piercing falara não saia de minha mente.

A vida em constante movimento!


CONTINUA...


Texto: André Bonfim
Foto: blognesga.blogspot.com

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

EU SÓ QUERIA DIZER...




O que é certo? O que é errado? Saudades de um tempo sofrido, porém belo para ser lembrado... ou dolorido em demasia para ser sentido. “O tempo não para...”, já dizia Cazuza. Se ele não para, jamais voltará! Fotos? Filmagens? Lembranças? Sofrimentos? O que valeu? Enriquecer-se de conhecimento que o mundo proporciona para saciar a sede da alma, a sede do que ficou perdido no tempo. Por que? Para saber que sobreviveu a diversas tempestades. Para quê? Depois da estiagem a chuva sempre volta para lavar a alma com lágrimas, suor e sangue.
Pude sentir sua tristeza... um quê de dor, um quê de dúvida... Vislumbro seu rosto e desenho seus olhos... seus olhos estão perdidos numa dança, a dança do abandono que busca algo que justifique continuar ali. Mas para onde olhar? Por que olhar? Qual o sentido de olhar? Apenas pupilas agitadas de um lado ao outro... uma tentativa frustrada de fazer parte deste mundo.
Dizem que os olhos são a janela da alma, realmente são. Sua verdade pode ser notada simples assim. Dói enxergar a destruição que as pessoas são capazes de fazer a um ser humano. As pessoas tentaram (e continuarão tentando) destruir sua pureza, seus princípios, seu caráter, sua história... sua poesia.
Não faz ideia do que desperta nos outros quando você olha o horizonte buscando uma resposta ao contar suas histórias cansadas, sofridas e repetidas. É um despertar de “quero colo”, sem intenções efêmeras e vazias. É isso! Você é um menino-homem que precisa de colo, de conselhos, de puxões de orelha e que precisa de amor.
Acorde, o mundo dói para todos!
Chega de tomar conta de tudo e de todos! Sua vida é feita de entregas exaustivas. Uma eterna luta de um lado só. O seu lado. Mas e o outro lado? Seu diálogo é um monólogo inaudível por causa de sua casca, sua roupa de carne tira a importância de ser ouvido, de ser notado mais de perto. Quando irá olhar para dentro de si, olhar o que há atrás da capa do livro que escreveu?
Chega! Chega! Chega! A dor também pode ser uma escolha e uma escola. A saudade pode ser bonita. O tempo não volta. O sofrimento pode ser um valioso aprendizado, não repita.  Viva. Acorde. Pule. Dance. Grite. Chore. Fale. Escreva. SINTA!
Ícaro tinha um sonho, ele queria voar... criou suas asas... concretizou seu objetivo, mas caiu! Todavia Ícaro arriscou, tentou, a vida cobrou seu preço, ele pagou, mas conseguiu! Viveu! A vida é um eterno risco! Viver é um risco! O que você escolhe?

Texto: André Bonfim
Foto: renata-recolorindo.blogspot.com

terça-feira, 13 de novembro de 2012

CALOR NA MEDIDA CERTA



Desde o início do outono deste ano desenvolvi mais uma rotina em minha vida: Nos finais de tardes possíveis, tomo meu café na varanda ouvindo uma banda que conheci há pouco tempo e que já virei fã de carteirinha, Coutto Orchestra de Cabeça. Parece trilha sonora da viagem perfeita, da festa perfeita, da conversa perfeita com amigos e também do ato de tomar um cafezinho sozinho em casa – além de me transportar para meu canto favorito: Aracaju. É essa a exata sensação. Porém a sensação é uma contradição, isso porque, ao ouvir a Coutto, me imagino dançando à beira da praia, ou fazendo um pick-nick no parque, ou, melhor ainda, dançar ao som ao vivo da banda – atividades que, em terras germânicas, são apenas possíveis no verão e/ou em dias quentes de outono.
A Coutto trás calor para o frio do já então gelado outono, quase inverno, e espero que continue a transmiti-lo quando o inverno de fato chegar. Porque eu quero é o calor, mas na medida certa. Eu quero o calor na medida possível para dançar e me deixar envolver pela atmosfera criada pelas composições da Coutto.



Um pouco sobre a Coutto, texto retirado da página  da orquestra:
“De Aracaju, Sergipe, a Coutto Orchestra de Cabeça faz parte da nova safra da música instrumental do nordeste brasileiro juntamente com artistas como Anjo Gabriel, Burro Morto, Camarones dentre outros. 
Formada em 2010, a micro-big-band faz a fusão da cultura dj com  as diversas melodias e fanfarras mundo afora, absorve e  traz para casa os cantos e ritmos tradicionais e pops como o tango, a cumbia, o balkan, as valsas, as marchas, o house e  o jazz manouche e leva para o mundo o maracatu de brejão, a taieira, a marujada e o forró, para executar um caldeirão sonoro o qual entitula Eletrofanfarra. 
No palco, seis instrumentistas linkam aparatos tecnológicos a sanfona, percussões, sopros, vozes e cordas para reproduzir melodias cativantes e batidas fortes. Canções sem palavras associadas a projeções e luzes, provocam uma sensação festiva e imagética em uma atmosfera urbana e enraizada na cultura das ruas. 
Com 02 Ep`s lançados (Micromúsica (2010)/ Aratu Milonga (2012)) a banda parte para lançar no início de 2013 o seu primeiro disco oficial, intitulado Eletrofanfarra. Atualmente a Coutto Orchestra vem ganhando destaque em importantes espaços do cenário da música brasileira como  shows na Feira da Música (CE), BNB Instrumental (PB e PE), LAB Festival(AL), Palco Giratório (SE), Festival Sertão Mundo (PE) e participação em diversas coletâneas fisicas e virtuais como Bass Culture e Beyound (BM&A), Serigy All Stars (Disco de Barro), dentre outras.
Além dos shows  está também produzindo trilhas para filmes como “A menina na casa”, de Hélio Marinho e espetáculos teatrais a exemplo de “C(s)em Nelson” e  Coiote, da Cia Stutifera Navis.
Corações abertos! A pulsação cardíaca da Coutto chegou!”


Mais informações: http://www.couttoorchestradecabeca.com/




A Coutto Orchestra de Cabeça:

Alisson Coutto: Trombone, vocal e controladoras
Fabinho Espinhaço: Bateria
Rafael Ramos: Contrabaixo, Trompete, vocal e Piano
Pedro Yuri: Craviola, Guitarbanjo, Controladoras e vocal
Vinicius Bigjohn: Acordeon, teclados e percussão
Werden Tavares: Vj, trinângulo e vocal



Foto do topo: Poster da arte: O calor do outono, colinas de Ment zazzle.com.br
Fotos da Coutto: http://www.couttoorchestradecabeca.com/

domingo, 11 de novembro de 2012

DESABAFO




Definitivamente sou louco. Contudo, não tenho o direito de sê-lo, louco não sabe que o é. O que me resta? Passar as madrugadas fumando e procurando provas para existir. Onde elas estão? Por isso, não consigo imaginar como a maioria das pessoas vive sem buscar os porquês de coisas aparentemente triviais e banais, como, por exemplo: a notoriedade de estar vivo! Falo das possibilidades que me cercam – não pense que este é um relato de um futuro suicida, mas pode até ser, é mais uma possibilidade, não descarto nenhuma delas.  A palavra-chave é passividade, pessoas estão inseridas num universo que denota descaso com a dádiva da vida; percorrem a estrada de tijolos amarelos sem nada questionar. Gostaria que essa mesma estrada me levasse para meu lar, onde poderia me sentir seguro. Onde será que ele está? Não consigo unir as pistas que encontrei no decorrer de minhas caminhadas iniciais. Até agora a vida tem sido um tédio! Espero um dia efetivar a minha missão. Só pode ser uma missão...
            Diante das possibilidades, gostaria de me lançar ao desconhecido como se este fosse um mar, com seus mistérios ocultos, o mesmo mar no qual os portugueses se lançaram na época da expansão marítima, com seus enigmas assustadores, rumando ao desconhecido. Quero enfrentar meus monstros, minhas serpentes marinhas, saber quais são reais, testar minha coragem e minha autodisciplina. Porém, não posso expressar meus pensamentos mais sujos, obscuros e desejos pecaminosos que poderiam macular o sentido de pureza que possa existir no cosmo, sem ter que pagar o preço. Quero dizer, testar as possibilidades e capacidades que vieram em meu “pacote básico de existência” ou aproveitar “as peças que acompanham o produto”. Quero descobrir terras intocadas e seus habitantes míticos para tornar a existência mais próxima do que seria mais humano, mais carnal. Sempre houve, há e haverá um preço.
            Liberdade, que nada! É um tédio viver sempre preso a parâmetros e laços de virtudes. Sem eles não haverá salvação. Existir tal qual um bom moço, respeitoso e de acordo com normas divinas materializadas pelo homem em uma Bíblia para acabar no céu? Ou desencarnar carregando erros e acertos para uma outra existência? Tudo bem, esta última me atrai bastante, mais que as demais correntes religiosas pseudofilosóficas. E a opção de desligar a máquina e reiniciá-la? Gostaria de ficar com esta última possibilidade, mas tal atitude poderia tornar as coisas piores e eu, com certeza, acabaria no vício eterno da eutanásia.
            Então, pergunto a Deus: qual o verdadeiro sentido da vida? Muita gente pode achar tolice essa pergunta, porém se Ele não quisesse que O questionasse tanto sobre esse assunto, teria excluído do meu programa de instalação. Então, acho que realmente quer que eu busque as possibilidades de respostas para poder escolher como aproveitar de modo qualitativo a dádiva de estar vivo...
Seria muito interessante poder simplificar! Quereria eu ter o direito de desejar que um anjo aparecesse e colocasse um mapa em minhas mãos, desta forma seria menos complicado proceder a minha evolução espiritual e chegar ao ponto máximo. Porém, até para isso eu teria que merecer. De fato, não mereço!
            Realmente não me sinto integrante deste mundo, ou deste plano, como você achar melhor. Não me interesso pela maioria das formas de diversão. Contudo, não gostaria de ficar isolado entre paredes de um cômodo... Acho que tudo fica mais humano, ou poderia dizer mais divertido, por isso humano, experimentando as potencialidades dos sentimentos, das sensações, testar o maniqueísmo. De qualquer modo, para quem vou falar das minhas grandiosas questões filosóficas sem parecer egocentrismo, vaidade, loucura, imaginação exacerbada? E que seja! Quem vai me ouvir tentando entender, decifrar, sei lá, sem se ater a parâmetros pré-estabelecidos? É fato, não sei se sou louco ou uma anomalia da natureza.
Por exemplo, gostaria de contar que me sinto como se eu fosse várias pessoas em uma, sem parecer que estou sendo subjugado por uma entidade espiritual. Acreditar que sou bom e ruim ao mesmo tempo, e também tudo isso separado, tendo a consciência que sou duas, ou três pessoas. Os católicos e evangélicos poderiam dizer que é o diabo tomando conta de meu corpo, já os espíritas diriam que é obsessão por espíritos malignos e os médicos que eu preciso de um tratamento com um psiquiatra. Algumas vezes eu diria que é obsessão, mas em outras eu diria não! O que me resta, ser louco?
Sinto que há uma coisa para explodir dentro de mim. Espero isso acontecer, mesmo sem saber o que é. E ainda assim essa coisa fica sempre no quase. Parece algo extrafísico, mas também parece algo que poderei tocar. É uma loucura! Sou louco! É fato! Quero minha vida, porém ela não é minha. De quem ela é? Viu, realmente preciso de ajuda.

Texto: André Bonfim
Foto: Por Nathalie Gingold em Uncategorized Tags:Akna Inuit, Desabafo de uma ...
aknagold.wordpress.com

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

NAQUELE TEMPO...



Eles pareciam feitos um para outro naquele tempo em que se conheceram… Foram trocas de olhares desacreditados por ela – e ela estava linda em seu longo vestido branco que tanto escondia quanto valoriza seu corpo falso magro. Inconscientemente, sim inconscientemente, seu cabelo longo e anelado era jogado de um lado ao outro, liberando seu cheiro de mulher quimicamente identificada com o cheiro do macho que ganhara sua atenção. Sim, ela era o alvo, a presa que o corpo dele precisava, a mulher que ele queria para várias noites – mas isso ainda ele não sabia. Mas ali era o encontro de duas almas, almas intelectualmente ligadas, almas com uma longa história a ser vivida e viveriam, mas ainda não sabiam.
Eles pareciam feitos um para o outro naquele momento. Aquele encontro era tal qual uma dança, a dança do movimento óbvio do flerte. E ela acendia um cigarro, jogava mais uma vez seu cabelo para a lateral esquerda de seu corpo e sorria, enquanto cruzava a perna direita sobre a esquerda, fingindo que ele não estava ali, fingindo que não percebia que ele estava olhando em sua direção.  Mesmo de lá, enquanto trabalhava, ele conseguia sempre se mostrar especialmente presente para ela. Ao contrário dela, muito seguro e presunçoso ao ponto de ter certeza de que o momento do toque aconteceria no final da noite, mas ela não sabia, não conseguia acreditar.
A noite compunha o belo visual que aquele bar tinha, aquele encontro encantado de almas ao som de boas músicas e sua decoração rústica pareciam eternizar aquele momento. Mesmo bela a noite caiu, dando lugar a um belo amanhecer. As ondas da praia já aparentes convidavam qualquer um a molhar seus pés, lavando e levando resquícios de energias indesejadas. E ela se levantou para molhar seus pés. E ela levantou para molhar seus pés sem convidá-lo para ir junto. Mas ele foi.
Eles ainda pareciam feitos um para o outro enquanto se beijavam à beira mar, com suas ondas batendo na altura de seus calcanhares. E continuavam a se beijar quando o sol já aparecia ao fundo, fazendo qualquer um lembrar-se da cena de algum filme, ou novela, ou livro. A cena era realmente poética, não parecia real, parecia um exagero de uma mulher apaixonada ao contar sobre seu amado a suas amigas.
Eles ainda pareciam feitos um para o outro no tempo em que casaram, mesmo casando alguns meses após àquela noite em que se beijaram. Todos suspiravam quando o casal aparecia nos encontros rotineiros entre amigos. Era o casal que se entendia. Era o casal admirado por todos que o conheciam.
Mas tudo mudou! Eles não mais pareciam feitos um para o outro quando as dificuldades, problemas e desentendimentos surgiram. Mudou porque hoje eles são feitos um para o outro! E sabem disso!


TEXTO: André Bonfim
FOTO: declarandopoemas.blogspot.com

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

PENSAMENTOS REVIVIDOS




Minha vida está sempre ligada aos sonhos e a cada passo era como se fosse a concretização de mais um deles. Porém, os sonhos não parecem ser o que idealizamos, às vezes permanecem escritos, como se fossem quadros pendurados na parede. Será que eles deveriam ficar no mundo da fantasia, encantado e belo, para não perderem sua essência e sua beleza cair diante da fatídica realidade? A realidade, quase sempre, é cruel!
Em de meus muitos sonhos, eu me encontrava sob a intensa penumbra, num quarto pequeno de um hotel qualquer, que trás reminiscências indizíveis em palavras; sentado e com os pés sobre o batente da janela, tentei decodificar pensamentos em verbos. O cigarro entre os dedos, o rosto cansado e choroso mostrando a intensidade de minhas frustrações.
O quarto bastante humilde, com suas paredes em tom pastel, retrata o que se passa – não mais no âmago e sim em meus pensamentos. Morbidamente, este pequeno cômodo era a perfeita retratação do que sou. O corpo exaurido em energia, mas repleto de “flashbacks” e decisões a serem tomadas. O que fiz de minha vida? Nada! Eis aí o problema. Tendo o acaso como cúmplice, deixei a vida guiar-me de um lado ao outro.
A obscuridade estava tomando conta do meu ser, mais uma vez...
Sou uma fraude! Sou tudo aquilo que detesto na hipocrisia social e agora está mais difícil de sustentar essa personagem criada. A ira e a carência eram co-participantes da solidão, que juntas consumiam a minha alma. Ocasionalmente elas vinham visitar-me ou mandavam lembranças...
Experimentei o gosto da amargura e me deparei comigo mesmo, como se eu estivesse diante de um espelho. Não havia ninguém ali! Constatar este fato sempre foi doloroso. O subterfúgio sempre foi a busca de algo, a busca que nunca findara, a busca do nada perdido no cosmo. Eu podia ouvir seus gritos desesperados e aterrorizantes me perseguirem, eles eram metaforizados por momentos, momentos difíceis. Então, chorei várias vezes, vários momentos. Elevei-os a ponto de nunca avistar momentos de felicidade, onde os momentos de quase-felicidade regiam a minha existência e a infelicidade, pura e bela, tornara-se uma conhecida íntima e inseparável.
Lágrimas rolaram por sobre minha face e, junto ao sangue que escorria logo em seguida, que queimava minha carne como uma substância corrosiva. Verdadeiras feridas expostas. A grande dádiva que é a vida há muito não podia carregar, não em minhas mãos, não a minha vida. A responsabilidade é grande e nunca tive a capacidade necessária para abraçá-la. Como pude ser tão tolo? Viver ainda era insuportável!
Envolto em pensamentos disparados a todo instante por meu subconsciente, onde apenas meu caminho escuro, rateado por luzes no alto dos postes elétricos que me acompanharão por todo o meu percurso. Observo os postes e suas luzes e, sob cada um desses pontos luminosos sinto haver uma saída para o emaranhado de portas ao meu redor. Vejo os “sóis” impertinentes, luzes que representam as oportunidades, e olho para trás para observar as que estão em minhas costas, são as que perdi... Os planos pareciam tão eficazes, porém os sonhos continuavam tão distantes e os desejos exacerbados para a realidade suportar; a alegria já foi bem aproveitada e a dor era sofrida/sentida que podia esvair-se em lágrimas. As decisões eram tão ambíguas e o amanhã sempre estava ali para resolver os erros. Os limites pareciam tão mais próximos que podiam transformar pequenos problemas em calamidades catastróficas, onde a “saída de emergência” estava ligada a distração...
Fui muito intenso em tudo e, talvez por isso, ainda não pude florescer entre os espinhos. Sou o reflexo daquele tempo e de lá trouxe roupas antigas que não servem para revestir este corpo, esta consciência...
Agora deitado em posição fetal, onde a única coisa a me envolver, além dos pensamentos, era o lençol vagabundo, perfeito para alguém como eu, alguém que fez o que fiz! As lágrimas, ainda contínuas, já faziam parte da decoração do quarto, num hotel asqueroso, esquecido, agora em qualquer lugar que a depressão não mais deixava enxergar.

Texto: André Bonfim
Foto: umpoucodepoesia-msframos.blogspot.com

domingo, 21 de outubro de 2012

COCO COM COCO - MISTURA DE SENSAÇÕES




“Minha terra tem palmeiras, / Onde canta o sabiá; / As aves que aqui gorjeiam, / Não gorjeiam como lá...” (Gonçalves Dias - Canção do Exílio). Aqui encontro descrita a exata sensação em momentos específicos aqui na  Alemanha. A terra aqui me agrada, mas a saudade é inevitável.  Eu já conhecia as palavras do poema, mas não a sensação, que, acreditem aqueles que ainda não a experimentaram, senti-lo é tão diferente... dói. Mas é uma dor inominável, às vezes boa, às vezes não tão boa. Todavia a experiência é sempre válida.
Em momentos saudosos da pátria-mãe querida, sinto-me sensível. Sim, estou sensível. Por vários motivos. Quase todos eles estão inseridos na letra da música de Micheline Lemos e ao ouvi-la senti uma calma inexplicável. Porém compreendo que as referências à minha região, a mistura de  "brasis" ,contribuem para tal sensação. 
A letra da música “Coco com Coco” remeteu-me ao que deixei em casa e ao que aqui vim visitar.
Segundo um amigo brasileiro que mora na Espanha, depois de dois anos a saudade acaba por ser dominada – isso aconteceu com ele. Apesar de achar que eu esteja lidando bem com ela, espero que a minha vez de ter um controle maior também chegue - caso eu continue minhas andanças por terras europeias.
Assistam ao vídeo para saber as sensações trazidas por essa música tão gostosa de ouvir e que me faz dançar.



Música do paraense Márcio Farias, letra da sergipana Micheline Lemos, cantada pela paulistana Gabriela Gonçalves. Músicos: Alessandro Ferreira, Marco Rochael, Ronaldo Nunes e Kika Viana (convidada).





FOTO: cafecomartecamila.blogspot.com
VÍDEO: youtube

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

MEU QUERIDO





Aracaju, 25.08.2001
Meu querido,

sei que disse muita coisa ofensiva... Infelizmente não posso retirar nada do que eu disse, e nem posso me arrepender, mas não fui tão sincera como deveria ter sido. Há coisas que você não sabe. Há muito sabia que não daríamos certo, porém também sei que queríamos que tivesse dado.
Eu estava revendo tudo que escrevi, mês a mês, e notei que sempre citei nos meus textos as nossas diferenças (lembra que falei que sempre escrevi coisas sobre nós e que nunca mostrei a você?). Notei que o que nos unia não parecia amor, era alguma outra coisa diferente disso. E nos textos sigo dizendo que você chegou como um príncipe encantado (por favor, encare isso como algo simbólico e não literal), porém não o meu. Não por conta do momento que você apareceu, mas por saber que você não ser a pessoa certa para mim. E mesmo com essa consciência eu briguei comigo mesma, querendo violentamente que você fosse o meu príncipe, isso por conta de sua conduta, por conta do que você mostrava para mim. Você parecia ser a melhor pessoa que havia aparecido em minha vida. Por isso, tentei até gostar das coisas que você gosta e isso não pude suportar! Esse foi um dos meus erros.
Quando olho para o passado, vejo que você foi mais amigo que namorado. Talvez essa dosagem tenha sido administrada de maneira errada. Sim, você cuidou de mim! Cuidou de mim como amigo, todavia eu precisava de um namorado. Isso ficou marcado quando você deixou de fazer coisas, até mesmo as mínimas, para mim e começou a fazer as mesmas coisas, inclusive as mínimas, para seus amigos e a diferença ficava apenas na cama... E eu o alertei sobre isso quando falei que precisa ser reconquistada... Além disso, achava muito estranho o fato de você falar que fui sua melhor parceira na cama, que se sentia completo sexualmente comigo, e mesmo assim nosso contato íntimo não acontecia na freqüência que eu desejava. Imagine como ficava minha cabeça! Foi quando observei que não estava me entregando a você, não mais, já havia uma barreira, mas continuei insistindo ao dizer para mim mesma que você era a pessoa certa.
No início do ano, parei de dizer que o amava não pelo que aconteceu antes no nosso relacionamento, mas pelo simples fato de não mais sentir aquilo (amor mesmo!) e de não mais poder enxergar uma possibilidade de continuarmos por mais tempo juntos – claro que doeu ter sido julgada por sua amiga por algo tão bobo e mentiroso, não tive a intenção de não levar o papel higiênico.
Deixei de regar o nosso namoro por notar que ele estava prestes a ruir por qualquer coisa que alguém falasse a você. Se antes disso eu tinha dúvida sobre o que sentia por você, inclusive havia falado a Michele que não o amava mais, em janeiro deste ano veio a certeza! Michele disse que eu deveria esperar um tempo parar saber o que estava acontecendo com meu coração, foi quando viajamos e vi que era impossível prosseguir – não sei se você lembra, mas essa foi a vez que mais resisti em reatar o namoro -, mas acabei cedendo.
Após esse momento, sempre que você dizia me amar... eu nunca mais falei em amor, não achava mais necessário tentar me enganar. Então minha dúvida passou a ser: quando e como dizer não dá mais?
Sei que errei por não ter sido honesta conosco e dito que não dava mais antes.  Nosso relacionamento foi o primeiro a ser encerrado por conta do “amor” ter chegado ao fim. Acabei me culpando por não mais sentir algo por alguém como você (aquele príncipe...) e passei a ficar incomodada com aquela situação, por não saber lidar com ela. Então acabei me afastando de você e fazendo com que você se afastasse de mim. Infelizmente, ou não, foi o que aconteceu. O fim...
Mesmo assim eu sempre cri que poderíamos ter revertido isso, mas você sempre trazia novidades que me jogavam para bem longe de você! Sim, tive momentos de querer lutar por você, e o fiz, mas você sempre teve mais força no relacionamento do que eu, onde sempre acabava cedendo por saber que você não o faria. Por isso a raiva veio e eu precisava falar, a raiva escondeu o amor. E falei e nos magoamos. A cada palavra ofensiva que eu dizia também me machucava... e quando resolvi ir embora foi para ficar longe de você. Quando resolvi dar a notícia da partida, queria, na verdade, que você dissesse FIQUE! Porém você preferiu sofrer - usando suas palavras, “...alguém que gosto muito está indo embora para sempre”. Isso foi dito com lágrimas. Não me senti triste, mas estranha. Estranha por querer ouvir o FIQUE, mesmo sabendo que eu iria embora mesmo assim...
Depois de ontem, depois de todo o meu desabafo raivoso, notei que a raiva passou. Pode confiar. E saiba que a raiva veio à tona por notar que você não estava bem. Acredite ou não, fiquei preocupada com você, mas não soube lidar com isso.
Sei que não é fácil e imediato, mas gostaria de tentar construir outro tipo de relação, a de amizade. Sei que você já queria isso antes, agora eu também quero. 
Não pense que foi fácil escrever isso, por mais que pareça. Toda palavra escrita aqui foi racionalizada e sentida. E não tive a intenção de ironizar nada no texto, se isso aconteceu, desculpe-me. Desejo imensamente que apenas as coisas boas fiquem e perdurem. E você tem razão, não é bom guardar raiva... e sei que a mudança partirá dessa minha nova postura e não quero ir embora sem terminar o que começamos.

Luísa

P.S.: Não sou o que pareço e você também não o é, somos melhores que isso.  Eu quero antes de partir, beber uma garrafa de vinho com você. Ainda hoje pela manhã ligarei para você para combinarmos!




TEXTO: André Bonfim

sábado, 29 de setembro de 2012

As Canções




No quinta-feira, 04 de outubro deste ano, o filme brasileiro “As Canções”, do documentarista Eduardo Coutinho, será exigido no Filmfest Hamburg 2012, às 22 h.
O documentarista mostra recortes de vida de 18 personagens da vida real. Uma leitura sensivelmente crua das vidas se suas personagens. Elas próprias relatam suas histórias a partir de músicas significantes em suas vidas. É sabido por todos sobre a importância e a influência da música em nossas vidas, trazendo-nos diversas emoções e ajudando a construir nossa biografia. É fato, a música realmente nos remete a momentos pretéritos, atuais e futuros. É exatamente isso que o documentário mostra momentos da vida, onde a palavra “qual” direciona o desabrochar de uma história.
O filme já foi lançado no Brasil, mas eu ainda não tive a oportunidade de ver. Então não irei perde sua exibição aqui em Hamburgo.
Você tem uma música especial para um momento determinado?


O Filmfest Hamburg acontece anualmente, neste ano acontecerá de 27 de setembro a 06 de outubro, e comemora sua 20ª edição. Na mostra serão exibidos, no total, 140 filmes nacionais e internacionais. Na programação constam filmes com diversificadas temáticas e gêneros.
No festival famosas personalidades, como Clint Eastwood, já foram agraciadas com o prêmio Douglas Sirk. O prêmio recebe o nome do diretor alemão Douglas Sirk, nascido na cidade de Hamburgo.




domingo, 23 de setembro de 2012

VIDA "FÁCIL"


                                         


O que você está fazendo aqui? Vou trabalhar, vou sim! Vou mais uma vez vender meu corpo. Ele ainda não está gasto, posso continuar a tirar dele o meu sustento. Mas não é de sua conta. Ninguém liga e, mesmo que ligasse, quem iria me ajudar? Tomarei meu banho, se quiser ficar é problema seu. Claro, toda noite tomo meu banho, lavo cada parte de meu corpo tentando, em cada esfregada, sentir-me limpa; faço a minha maquiagem na tentativa de esconder meu rosto, se não for dessa forma eu não consigo... E a minha profissão é essa: conseguir!
Muitos já me perguntaram o porquê dessa profissão e, assim como você, ainda tentam, em vão, mostrar um pouco de doçura. Não quero que ninguém sinta pena de mim! Este é o meu trabalho, o faço para ganhar meu dinheiro e viver. Por que você e essas criaturas não vão direto ao ponto? Sei que o que eles querem mesmo é saber se com eles trabalhei com prazer. Egoístas! Que pergunta mais sem cabimento! Sou um ser humano, sinto prazer como qualquer outra mulher e não há diferença entre as outras e eu. As outras que me refiro são as esposas, as namoradas, as amantes, todas as vezes que transarem estão trocando alguma coisa. A troca está para o sexo, assim como o oxigênio está para a existência.
Amar. O que é isso? Não faz parte da minha vida, não conheço este verbo conjugado a outra palavra senão vida. Se não fosse assim não faria o que faço. É isso, continuarei fazendo por amor a minha vida.
No início da carreira, o meu alicerce estava baseado em três pontos muito fortes, eu diria também distintos. Um era a satisfação e a capacidade em usar meu corpo para dar prazer e ter prazer, usá-lo para seduzir e mostrar que sempre fiz com vontade. Entre quatro paredes não existe pudor. Segundo tal conceito, enlouqueci vários homens e percebi que em meu sexo estava concentrado o meu poder. O outro motivo seria a curiosidade de transar com vários homens, de todos os tipos: feios, magros, estranhos, pobres, enfim, homens que eu não tivesse vínculo nenhum. Transaria com os bonitos e ricos também, mas a minha fantasia era a de ser possuída por esses homens que dificilmente teriam uma mulher bonita como eu. E o último era o dinheiro mesmo! Estava precisando e foi a maneira mais fácil de consegui-lo.
Você não pode me julgar, tentei sim conseguir um emprego decente, mas eu estava acostumada a viver com conforto e não foi possível encontrar algo que me garantisse o mesmo nível de vida. Quer saber? Meu emprego é decente! É muito fácil julgar sem conhecimento de causa. Fui largada! A morte é a verdadeira culpada por tudo isso. Vivo em meio à amargura e à dor, tentando manter a sanidade para poder prosseguir. Qual o problema em tropeçar? O importante é que vou seguindo o meu caminho, com obstáculo e tudo o mais... Você! Em sua vida nunca encontrou dificuldades? Então, eu preciso de tempo para me reerguer... mas já faz três anos e as perspectivas ainda não mudaram... é isso! Tenho que pensar em um meio... Mas como? Oh meu Deus, será que você existe?!
Droga! Borrei minha maquiagem! É melhor retocá-la e ir trabalhar. Ficar aqui sentada, me lamentando não vai pagar minhas dívidas.


Texto: André Bonfim
FOTO: http://br.freepik.com/fotos-gratis/flor-flor-rosa_157250.htm

A casa de Berg





Meu segundo ano de comemoração do aniversário de Berg. Eu, assim como no ano passado, havia planejado ficar duas horas no máximo. Novamente não consegui cumprir meu prazo. A casa de Berg parece a ambientação de um filme Cult rodado na Europa. De fato o é, rodado na Europa e Cult, mas não é um filme. É vida real.
No mundo de Berg parece não haver preconceitos. É muito impressionante ver aqueles “machões” tão relaxados e se divertindo num ambiente onde existem diferentes públicos. É muito impressionante ver aqueles “machões” tão relaxados ao ponto de fazer brincadeiras com os gays que exigem o toque, sem ultrapassar o limite da brincadeira – será?. É impressionante ver aqueles machões fazendo isso sem se importarem com o que as mulheres da festa iriam pensar sobre eles. E é impressionante ver aqueles “machões” se tornarem ainda mais desejados por aquelas mulheres que ali estavam e pelos gays também.
No mundo de Berg , nós vemos várias cores, várias bebidas, várias opiniões e o respeito. A casa de Berg parece ser um ambiente neutro, onde as diferenças são deixadas à porta de entrada ou deixadas no quarto separado para guardar os casacos. Depois é só pegar os casacos novamente, sem esquecer-se das diferenças, é claro!
No mundo de Berg acontece também o encontro de culturas: intelectuais e de entretenimento.  Num ambiente com uma estante repleta de livros e com quadros feitos por um dos moradores da casa, o próprio Berg, ouvimos e vemos músicas alegres, apelativas e que provocavam reações diversas nos espectadores, ou seja, adequadas para trazerem o tom de antagonismo e miscelânea que a casa de Berg pede.  Além do fato de a música intelectual já ter sido apreciada.
No mundo de Berg a cozinha é uma das marcas de suas festas. Não entendendo o porquê conscientemente, a cozinha é o lugar preferido de quase todos os convidados. Na verdade é lá onde tudo é mais livre, tudo é possível, é o lugar das bebidas, é o lugar onde todos podem fumar, é o lugar onde Leila Pantel lava a louça e canta acompanhada por um pandeiro. É na cozinha que você conversa em alemão, ouve inglês e fofoca em português (assim é melhor para os gringos não entenderem).
A casa de Berg é um dos eventos mais aguardados entre os brasileiros e gringos, fazendo parte do meu calendário de eventos anuais em Hamburgo.
Tudo isso acontece por Berg ser inteligente, educado, ótimo anfitrião, alegre, com a pele maravilhosa e quando é dada a hora ele é capaz de jogar tudo isso para cima, como se fosse confete dos bons carnavais de outrora para cair na gostosa gandaia? Não sei!
O carisma de Berg ainda será fonte de estudo da NASA! Cara massa (esta palavra "massa" sempre me lempra Lilian!)!!!

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Eu versus eu versus você (s)



Nascido em qualquer lugar, em qualquer dia, em qualquer mês... Prefiro que seja dessa forma, esquecer de onde venho para não saber aonde devo ir! É melhor ser eterno para que a vida passe de maneira mais suave, para não senti-la tanto.  Já tentei dizer em palavras escritas num diário, pensei que contando minha história eu poderia transformá-la em algo etéreo jogando-a ao cosmo. Queria que o vazio findasse!
Parece que minhas tentativas são constantemente podadas... Fui um adolescente perturbado e cheio de conflitos infindáveis, um jovem destinado a ter tudo e nada! Eu me definiria como um vício, a droga para os viciados, onde eu mesmo tirei a minha vida, várias vezes, para renascer qual uma fênix, das cinzas, sempre delas. Sou a minha própria invenção, sou deus subserviente ao "Criador Supremo", o verdadeiro Deus.
A minha vida sempre esteve cercada de indícios de se perpetuar no mar da depressão. Procurei sempre sufocá-la dobrando a esquina dos bons modos, mas meus pensamentos me acusavam!
Odeio ver a capacidade de a maioria das pessoas abstraírem dos conflitos conectados no âmago da existência. Queria poder dizer a elas como são repulsivas a mim. Sempre quis trazer à luz a capacidade da dissociação dos setores de minha vida, numa tentativa de solucionar seus problemas. Mas a frustração está sempre à minha espreita, ouvindo meus gritos de socorro! De fato, preciso recorrer novamente à eutanásia! É necessário renascer outra vez...

Texto: André Bonfim
Foto: fadagirl.blogspot.com

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

ENCONTRO DE CULTURAS... ENCONTRO DE COMPORTAMENTOS...




Desde os tempos em que eu estava na universidade, especificamente na matéria de Filologia Românica, tenho me interessado pelo encontro de culturas, de que forma ela acontece... Mas este texto é apenas uma salada de pensamentos após terminar de ler, mais uma vez, o livro "O Mundo de Sofia".
...
 Por vezes isso parece um processo de racionalizar as experiências, ou uma espécie de fusão entre a cultura nativa e a cultura visitada. A necessidade que o cérebro tem de armazenar de maneira lógica aquilo que é visto, sentido, tocado e pensado.  O processo de engavetamento às vezes desenha-se como uma contradição, mas que esta aparência pode ser explicada de diversas formas. Podemos nos emprestar o que disse Platão em seu pressuposto “O mundo das ideias” para iniciar o apoio aos quatro pontos da lógica experimental. É uma tarefa árdua que se utiliza dos âmbitos cruzados das disciplinas consagradas da humanidade e das novas teorias comportamentais.
Para Platão a ideia pressupõe a coisa existida. O que existe flui e transforma-se e torna-se único. Mas a ideia, a matéria pressuposta, a fôrma, ela é imutável, portanto geral. Ou seja, tudo aquilo que vemos e tocamos já existia no nosso ideal, como se fosse algo existente em nosso DNA que nos fará identificar a matéria no momento da experimentação. Depois desse momento, toda a matéria com aquelas características resultam num tema que já pré-existia, porém sem defini-la como matéria específica. Ela é matéria geral, acúmulo de informações.  Encaixando esse conceito no padrão básico comportamental, à primeira vista, vislumbra-se uma ilógica a partir de “novos padrões de comportamento da sociedade”. Se uma ideia pressupõe a coisa, então afirmar que nada é novo e que tudo é cíclico é inevitável.
Se nada é novo, se tudo é cíclico, podemos mapear o próximo passo da sociedade analisando seu processo evolutivo associado às transformações aceleradas pelo avanço tecnológico. E, então, tentar enxergar onde “os novos processos” se encaixariam em qual momento histórico.
Como a ideia “Cultura”, após ser experimentada, se comporta como um novo padrão social? Esta premissa nos leva a outra: Ao movimento cíclico cabe à involução levando a sociedade em direção ao momento nulo e reiniciar-se? A Bíblia histórica parece nos responder que sim. Mas nela existe a argumentação alegórica por meio da fé que busca respostas recriando a história da humanidade através de uma mitologia própria. A Bíblia está repleta de códigos que apoiam o conceito de signo criado pelos pais da Semiologia e Semiótica.
A Bíblia consiste de histórias intercruzadas, resultando num sistema de regras comportamentais daquilo que é cabível ou não à sociedade humana. Onde virtudes e vícios são descritos, assim como as consequências de seus usos. Seu sistema “ético” tornou-se praticamente inútil nos dias de hoje em consequência da transformação sofrida pela sociedade e a necessidade inata da razão pensar e repensar o “certo” e o “errado”.
Tal modelo de comportamento que resultou na Bíblia da fé, reproduz numa parcela numerosa das diferentes culturas o que Pierce chama de primeiridade. Que é a primeira impressão que temos das coisas, poluída de sentimentos particulares que traduz uma conclusão equivocada da sociedade, resultando num comportamento passivo diante de problemas que exigem um comprometimento esclarecido das responsabilidades concernentes a construção daquilo que seria ideal ao conjunto. Existirá sempre a ideia de que alguém virá nos salvar e transformar o mundo num paraíso, onde tudo coexistirá de maneira harmônica e benéfica para todos. Ou seja, o comportamento padrão continua atribuindo a algo alegórico aquilo que é de sua responsabilidade.
Talvez isso represente a ideia pré-existente de que caminhamos ciclicamente para o processo nulo, onde a sociedade reinicia.








Autor: André Bonfim

Foto: seforarocha.blogspot.com